sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O dia em que Picasso quase perdeu a orelha.

Eu sempre achei que nós traçamos o nosso destino! Claro, não é tão simples assim como parece, mas penso que grande parte das pessoas que atingem o sucesso, tiveram o cuidado de projetar o próprio caminho!
Se me perguntassem o que eu espero da minha vida como escultor, eu responderia sem hesitar,
" eu quero o êxito e o sucesso de todos os meus projetos ". Para minha carreira tenho grandes
aspirações, não pretendo me contentar com pouco, penso alto e não sou modesto!
Se vou conseguir atingir os meus objetivos, isso é outra questão!

Eu costumo imaginar hipoteticamente uma conversa entre dois ícones da arte universal: Vincent Van Gogh e Pablo Picasso! Provavelmente Picasso tomaria a palavra primeiro, acho!
- E aí Van! O que pretendes fazer da tua vida? Pergunta Pablo com o cigarro apagado entre os dentes.
- Eu querro serr pintorr! Responde o irriquieto gênio tentando tirar uma casquinha duma ferida na orelha esquerda.
- Ué? Mas és o quê agora?
- Han? Eu querro serr o maiorr... Brada o holandês apontando o cachimbo na direção do espanhol como se fosse dispará-lo.
- E tu Pablo? Querres fazerr o quê?
- Eu? Eu quero vender as minhas telas em todas as grandes galerias no mundo inteiro e ganhar muito dinheiro, claro, ficar milionário! Respondeu o criador do cubismo recostando-se na poltrona!
- Venderr? Perguntou Vincent espumando saliva no canto da boca!
- Sim! Vender e aí? Picasso encolheu os ombros.
- Mas porrque venderr uma coisa que sua imaginaçon crriou? Venderr uma obrra prrima, algo que nasce dentrro do serr humano non poder serr vendido! Entendes?
Van Gogh já havia levantado da cadeira e enquanto falava chutava os móveis, comia tintas direto nos tubos e batia com as duas mãos espalmadas na cabeça quase arrancando os parcos cabelos.
Picasso olhou estupefato para o colega. Não conseguia entender o que se passava na cabeça dele!
Levantou, vestiu seu pesado sobretudo, colocou a manta e o chapéu e foi saindo devagarinho sem olhar para trás. Ao fechar a porta do quarto ainda podia escutar o esbravejar do holandês.

Já na calçada defronte ao prédio, Pablo voltou o olhar para a janela do aposento onde hipoteticamente acontecera a estranha conversa. Podia ver a silhueta esguia do pintor fazendo movimentos frenéticos como se estivesse quebrando tudo no interior do quarto.
Picasso retomou seu caminho sacudindo a cabeça negativamente e em pensamento ia dizendo " Doido varrido dos infernos, este és loco y mucho "

Se um encontro desses dois gênios pudesse realmente acontecer, a conversa entre eles seria impossível! Nem as poucas palavras que acabo de escrever!
Mas o que interessa mesmo é a conclusão! A grande diferença entre os dois, é que um escreveu o seu caminho delineou o seu destino! Pablo Picasso, o primeiro marqueteiro da arte que se tem notícia! Planejou ítem por ítem da sua trajetória, acho até que as suas mulheres faziam parte de um risco calculado! Em todos os sentidos até o encontro com Douglas Duncan, o fotógrafo americano que imortalizou o atelier de Notre- Dame de Vie, para mim não foi casual!
E então meus amigos, só poderia dar no deu, US$ 300.000 de patrimônio que despencou no colo da pobre Paloma!

E o Van Gogh? Coitado! Este não tinha a menor consciência do que estava acontecendo, nem com ele, quanto mais com a pintura dele! Mas ele parecia feliz! Só queria ser pintor, maior que o irmão dele o também atormentado, Théo Van Gogh.

Acho que os dois conseguiram exatamente aquilo que esperavam para as suas vidas! Cada um à sua maneira! Picasso morreu aos 93 anos, na condição que ele havia planejado, rico e famoso!
Van Gogh se matou aos 37 exatamente na situação que ele queria, deitado fumando o seu cachimbo, na miséria e desconhecido.

Eu?... Já disse qual o caminho que escolhi! E vocês?

Ricardo Kersting

3 comentários:

Helena Erthal disse...

Gostei do encontro hipotético de artistas dessa magnitude rsrs.
A mensagem é ótima, pois saber o que se quer da vida é fundamental, tentar se planejar ajuda muito mas o difícil é, ainda bem jovens, conhecermos a nós mesmos o suficiente para optarmos de maneira coerente com nossa essência.

Helena Carvalho disse...

Interessante, o encontro dos dois gênios. Penso até que foi Picasso, nesse mesmo encontro, quem detonou o primeiro surto no Vincent. E ainda bem que o espanhol foi logo embora... caso ficasse, talvez o suicídio ocorresse naquele mesmo dia e nós não teríamos hoje a obra do famoso psicótico holandês, pois o neurótico espanhol era expert em aniquilar não só tradições pictóricas, mas também tinha grande habilidade em dissolver personalidades alheias, preferencialmente as das mulheres.
Van Gogh destruiu-se e não vivenciou sua escalada ao sucesso.
Picasso destruiu e vivenciou seu plano milionário.

Unknown disse...

Achei muito interessante o possível encontro desta mentes inquietas... Aliás, a história da humanidade talvez fosse diferente se algum destes personagens tivesse alterado sua forma de encarar o mundo! Fica o meu registro e protesto pela impossibilidade cotidiana de mentes inquietas trocarem papéis e pouco possibilitarem choques e inovações... Lógico, tendo a crença permanente da necessidade da alteração do status quo para a evolução humana. Fica meu grato reconhecimento as palavras que saborearam este encontro fictício!