Não esculpi muitos abstratos. Em várias ocasiões me detive ainda no começo da obra.
Não foram poucas as vezes que concluí que a pedra seria melhor aproveitada num figurativo.
Parece estranho um escultor escrever isso. Mas acontece mais do que se imagina.
Nem sempre o abstrato obedece um planejamento, ao contrário do figurativo que quase sempre depende de um modelo. O abstrato é mais intuitivo, inspirado e por isso mais espontâneo. Essa espontaneidade se transforma em arte mais rapidamente que o planejamento do figurativo. Nem sempre o figurativo é "arte". Por outro lado, o abstrato sempre remete o espectador para um lugar que eu costumo chamar de "entre a dúvida e a incerteza". Poucos se sentem seguros para criticar um abstrato, por mais desengonçado que ele pareça. Quanto ao figurativo, "o pau desce".
Bem, eu me sinto seguro no figurativo, bem mais do que no improvável, indecifrável abstrato.
Fiquei com a frase da Martha Von Maders martelando minha cabeça. "Amo o abstrato. Sempre revela o que queremos". É, as coisas mudam. Vou olhar os meus abstratos com mais carinho.