terça-feira, 1 de setembro de 2009

Espaço vazio e o movimento futuro.


Afinal, o que é a escultura?


É uma pergunta subjetiva e ao mesmo tempo óbvia. Mas a resposta não existe.

Podemos afirmar que alguma coisa é escultura ou não, mas fora a definição de escultura, o que ela é mesmo? Eu não sei. Eu sei o que é a pintura, é a impressão de tinta sobre uma superfície.


A escultura é o espaço negativo, ou o "não espaço". Se existir um buraco no espaço, este buraco é a escultura. A obra escultórica é o preenchimento do espaço, ou a simples eliminação dele. A escultura não cria o espaço, pelo contrário, elimina o espaço existente. Entretanto a composição de uma peça necessita além do espaço inexistente, uma parte de "espaço vazio" que seria em última análise, o espaço positivo ou espaço real. A forma da escultura possue o espaço, ou joga com ele como se o mesmo fizesse parte material do conjunto. Estes espaços sempre interferem no efeito visual da obra, pois todo vazio pode ser preenchido, por luz ou por sombra.


A ideia de espaço vazio sempre foi a pedra no sapato de muitos escultores. Alguns não sabem o significado dessa equação e acabam interrompendo o movimento da obra de forma abrupta, o que determina uma peça sem harmonia. A questão de deixar uma escultura sem uma parte física, não significa que ela ficará incompleta ou sem movimento.


Imaginemos uma escultura famosa tipo a Vênus. O que falta nessa obra? Eu diria que nada, mas aposto que muitos pensariam nos braços. De fato a Vênus de Milo não tem os braços, mas e daí? Precisa tê-los? Claro que não, até acho que a nossa bela mulher ficaria muito estranha se aquele "espaço vazio" fosse preenchido. A partir de Auguste Rodin podemos criar um movimento sem que ele realmente tenha acontecido. É o movimento futuro. Mas que para isso seja possível, devemos prever um espaço onde este movimento caiba. Nada mais simples, um espaço vazio para um movimento futuro. Mas onde acontece este preenchimento de espaço vazio com um movimento futuro? É exatamente na estrutura da obra onde a "construção muscular anuncia que aquele espaço vazio será ocupado por uma forma em movimento, mesmo que isso nunca venha a acontecer fisicamente".


Essa é uma das partes mais interessantes e dificeis da escultura, fazer com que ela tenha movimento de membros sem precisar fazê-los. Então podemos afirmar que a Vênus de Milo tem braços, só que eles não aparecem. E nem precisa.

Um comentário:

Cynthia Lopes disse...

Belo texto Ricardo, seus vazios são todos muito expressivos, sempre, bem como os espaços por ti preenchidos. Espaços preenchidos por uma música inaudível, velados sons. Bjs