quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A obra acabada.- Doris. Mármore do Espírito Santo.


Passei grande parte da minha estrada buscando o acabamento perfeito, o brilho, a luminosidade resplandecente ao ponto de refletir a incredulidade dos observadores. Quanto tempo perdido. Se o polimento significasse uma arte final teríamos que pensar em colocar os melhores porcelanatos em galerias de arte. Não somente como piso, mas como obras de arte prontas para o consumo. Ao estudar a escultura aprendi a valorizar a intenção do artista, não apenas o acabamento visível, mas principalmente tudo aquilo que ele deixou de "fazer" em seu trabalho e os motivos pelos quais ele assim procedeu.


Atrás da conclusão de uma obra, se esconde a essência da mesma. Muitas vezes o escultor entende que a peça, aparentemente inacabada, já cumpriu o seu objetivo. Ele imprimiu em suas formas tudo o que fazia parte de seu projeto. Quaisquer cortes, aprofundamentos, polimentos ou outro procedimento estariam tangenciando o excesso. A suposta falta não pode ser questionada, e nem é detectada por alguém alheio à concepção da obra, até porque isto pode nem ter passado pela cabeça do artista. Mas o excesso sim. Além de ser facilmente percebido, quase sempre denuncia a imperícia e a falta de domínio.


Não quero ficar criticando aqueles que buscam aprimorar o polimento de suas obras, são julgamentos exclusivos de cada escultor. Entretanto, da minha parte quero me dedicar mais profundamente às formas. A pedra tem que estar sob meu comando e nela vou gravar aquilo que compreendo como parte essencial da minha escultura.


Se o polimento fosse tão importante assim, poucas peças de Rodin, Michelangelo, Brancusi, Picasso, Moore e outros seriam consideradas concluídas.

2 comentários:

Helena Erthal disse...

Ricardo, Sua Doris parece uma chama, sinuosa, cheia de sensualidade e equilíbrio. Nada exagera ou exclui em suas bem escolhidas linhas.
Lindo trabalho!

abraços

Cynthia Lopes disse...

Oi Ricardo, não é economia de palavras, embora eu esteja mesmo nesta fase. Mas é que Helena definiu tão lindamente esta sua peça, esta sua obra que faço minhas as palavras dela. bjs